sábado, 30 de dezembro de 2006

Claro, Clarice

Parece que as coisas estão paradas nesse final de ano, meio no ar, como se tudo estivesse em suspensão, sob efeito de gravidade 0, e só esperando a rotina retomar junto com o ano novo pra tudo cair sobre nossas cabeças, de repente!

Não ando com vontade de escrever, mas não estou mais parada. Acho que ando querendo absorver. Fico lendo a Clarice Lispector, pra cima e pra baixo. O livro se chama 'Aprendendo a viver'. Ela fala de coisas que nos atormetam sem que percebamos, e acabo sentindo um grande alívio quando leio seus contos. Acho que é alívio por saber que alguém antes de mim já conseguiu expressar os sentimentos mais corriqueiros do dia-a-dia e por isso não faz mal então se eu também me importar com eles. Mas também me dá um pouco de agonia. Porquê tem frases muitos especiais lá dentro... tem frases que explicam tudo o que eu precisava saber em algumas poucas palavras. E queria guardá-las pra mim, pra quando eu precisar num momento de pensamento qualquer. Comprei caneta marca-texto mas o livro não é meu então não posso sair grifando... e mesmo que fosse, iria grifar o livro inteiro? Terei capacidade de lembrar de tudo?
Só sei que o livro está sujinho e quando terminar de ler já me pediram emprestado, mesmo não sendo meu. E em troca receberei mais dois dela, que também não são de quem vai me emprestar. O mais engraçado que descobri é que o meu processo de ler a Clarice concide com o processo de outras pessoas também: primeiro lê quando é mais jovem e não gosta; depois alguém sugere mas a lembrança ruim não deixa começar; aí quando finalmente começa podem acontecer duas coisas: (1) se estiver num momento menos sensível a leitura é esquisita, meio louca e não diz nada, ou (2) cada palavra faz sentido, as frases foram escritas especialmente para aquele minuto da vida do leitor, os assuntos dos contos vão surgindo na exata ordem em que a vida está sendo vivida... e aí fica aquele coisa meio mágica e meio de arrependimento por não ter começado a lê-la logo de cara quando sugeriram da primeira vez! É, tenho que dar o braço a torcer, valia a pena. Mas acho que comecei exatamente na hora certa!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Um momento, por favor!

"Please stop and look at our poster for refreshing WKD. Then we can wish you a happy Christmas. And it will save you making eye contact with that weirdo on the bench over there."

Esse é um mega anúncio de vodka que vi hoje em uma plataforma do metrô aqui de Londres. Será que era pra ser engraçada? Pelo menos ninguém aqui é hipócrita, não gostam de eye contact no geral, muito menos com pessoas esquisitas...

Pra se viver em sociedade existem certas 'regras'. Alguns sentimentos e certezas que, mesmo sendo compartilhados interiormente por muitos, nunca são falados. E o que acontece quando um desses sentimentos é exposto assim, na lata? Isso deixa de ser um tabú? Ao ser pronunciada a idéia deixa de ser considerada politicamente incorreta e passa a ser senso comum, a ser aceitável? E a pessoa que se sentia mal por trocar - sem querer - um olhar com um estranho (estranho de esquisito e também estranho de pessoa desconhecida) passa a se sentir aliviada e bem por saber que os outros também se sentem assim e ela não é a única? Weirdo é o cara sentado no banco?

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Temperatura neste momento

Current Nearest Observations:
clear -2°C
NA (0 mph)

Relative Humidity (%): 99,
Pressure (mB): 1041, Rising,
Visibility: Poor

+ não estou acreditando +

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Meus amigos, amigas, amigos-família, amigo-namorado, amigo-velho, amigo-novo, amigo-cachorro, amigo de anos, amigo de horas

Me dei conta que existe sim uma ótima vantagem em ir ficando velha... é tão óbvia!! Como não consegui enxergar isso antes?
Quando a gente conhece uma pessoa nova existem basicamente três possibilidades:
1) conhece num dia, no dia seguinte esquece, perde-se o contato, acabou... quem é mesmo?
2) conhece, encontra de novo, e de novo, e assim vai, é até legal encontrar mas não passa disso;
3) conhece, encontra de novo, e de novo, e acontece alguma coisa legal que poderá ser lembrada depois, e o tempo vai passando, e outra coisa acontece, e aí já se lembrou da primeira, e o tempo continua passando, e vão acrescentando-se histórias e situações e fatos e brigas e rolos e risadas e choros e loucuras e chatices e mensagens e coisas bonitas e surpresas e diversão e um monte de outras coisas.
E quando nos damos conta vários anos se passaram, e tem uma pessoa do seu lado que conhece não tudo de você, mas quase tudo... capaz de prevêr qual seria sua reação, capaz de te lembrar das suas qualidades, dos seus defeitos, capaz de não julgar quando fazemos cagada, capaz de nos deixar feliz só pelo fato de escrever uma linha no messenger...
E a vantagem do tempo é a sua capacidade cumulativa. Mesmo não sendo muitos, os amigos de verdade fazem a gente sofrer porque não estão mais perto... e fazem a gente lembrar de como nos conhecemos, e fazem lembrar de tanta coisa, até que o tempo continua passando e com ele, novas amizades continuam começando.

+ dedico as músicas do Matchbox 20 aos meus amigos queridos +

The Dream - Henri Rousseau



Bóia

Todo mundo está indo pro Brasil nesse época. Está certo, a maioria passou um ano inteiro aqui e merece mesmo. Eu acabei de chegar, não posso dizer que já estou morrendo de saudades... mas é muito estranho. Parece que existem 2 universos: o meu e o das pessoas que estão ou estarão lá. O nosso calendário é o mesmo. Mas sinto que o tempo vai ter outra escala; os valores e significados das datas festivas vão ser diferentes; os climas são opostos que não se atraem. O mais estranho mesmo é saber que quem está aqui ficará lembrando, quem está aí vai estar esquecendo.

E minha cabeça vai adquirindo aos poucos a real noção de distância do Hemisfério Sul. Porquê antes eu não tinha noção, era só pegar um avião, arranjar alguma coisa pra pensar naquelas horas de vôo e fácil assim eu já estava na Europa! Aí era aproveitar até ter que voltar pro país tropical! Agora a distância está se tornando uma coisa quase palpável. Mas ela não é fixa e isso está me incomodando...

Me imagino numa daquelas bóias de piscina, não uma bóia qualquer... uma bem kitsch com formato de ilha, com um coqueiro inflável e um buraquinho pra colocar o copo de bebida. E aí eu fico boiando nessa coisa feita exclusivamente pra clima tropical, de biquíni e óculos escuros, largada. A bóia vai e vêm, mas o máximo que ela vai é até Portugal mais ou menos, aí ela volta... vai rodando, e vai sendo levada mais pro norte, opa, volta, aí volta e fica virando, sendo levada pelo balanço da água mas não por nenhuma corrente marítma mais forte - não, ela ainda não vai atravessar o Atlântico.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Dois Rios

Dois Rios

O céu está no chão
O céu não cai do alto
É o claro, é a escuridão

O céu que toca o chão
E o céu que vai no alto
Dois lados deram as mãos

Como eu fiz também
Só pra poder conhecer
O que a voz da vida vem dizer

Que os braços sentem
E os olhos vêem
Que os lábios sejam
Dois rios inteiros
Sem direção

O sol é o pé e a mão
O sol é a mãe e o pai
Dissolve a escuridão

O sol se põe se vai
E após se pôr
O sol renasce no Japão

Eu vi também
Só pra poder entender
Na voz a vida ouvi dizer

Que os braços sentem
E os olhos vêem
E os lábios beijam
Dois rios inteiros
Sem direção

E o meu lugar é esse
Ao lado seu, no corpo inteiro
Dou o meu lugar pois o seu lugar
É o meu amor primeiro
O dia e a noite as quatro estações

lálálá...

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

cachorro-velho

Aqui é tudo trocado. Não sei se é porque estamos numa ilha e isso provoca reações adversas ou se tem a ver com o fato dela ser desenvolvida.
Fato 1: agora tenho um cachorro postiço emprestado que supostamente deveria curar a minha carência. Ele é tão apático que um cachorro de pelúcia que funcionasse com pilhas AA e falasse frases do tipo "vamos brincar?", "me leva pra passear?", "quero fazer pipi", "au, au", seria melhor! Parece que perdeu todos os instintos animais. Como eu só conhecia cachorro brasileiro estou estranhando um pouco. Cachorro no Brasil late o dia inteiro pra quem passa no portão. Cachorro no Brasil caga na rua e ninguém limpa. Vira-lata e vira-lixo. Pega pulga, sarna e carrapato. Olha antes de atravessar a rua. Anda em bando atrás de fêmea no cio. Cachorro é mais cachorro!
Fato 2: estava andando na rua tarde da noite essa semana. Aí surgiu um senhor que lembrou meu Nonno. Ele usava roupa de europeu: sobretudo cáqui e uma boina de lã. Estava de bicicleta, dessas de passeio mesmo, com luz, para-chóques e cestinha!! No maior estilo. E aí ele veio na minha direção e desviou, e foi pro outro lado da rua e desviou de novo, e seguiu assim, subindo a rua de um lado pro outro, agilmente, como a gente sobe ladeira de bike quando é jovem! Foi um velho-jovem que eu vi...fiquei espantada! Fiquei olhando até ele ir embora. Velho no Brasil tem reumatizmo. Não tem direito a andar de bicicleta. Não tem dinheiro pra comprar a bicicleta. Não usa boina e nem anda no maior estilo. Toma remédio que custa quase toda a aposentadoria. Idoso no Brasil feliz da vida?

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Fato

9 pessoas morrem por dia (5 – 10% do número de óbitos da capital de São Paulo) por doenças agravadas pela poluição do ar. E há uma redução em média de um ano e meio na expectativa de vida causada pela poluicão e seu impacto na saúde da população!!!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Belong

Parece que passamos a vida inteira em uma dança onde o objetivo final é se sentir parte de um grupo, fazer parte de um todo que faça sentido... pra depois descobrir que esse grupo não faz sentido, e então continuamos a dança pra sair dele e procuramos outro.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Passeio no interior

Chegando na cidade, atravesse a ponte. As roupas que foram lavadas ficam penduradas logo ali, na beira do rio mesmo. Vá andando, mas não precisa andar muito, logo `a direita você vai ver o mamoeiro, com os maiores mamões desse mundo! Aproveita, já estão quase maduros. A vida no interior tem outro ritmo então não precisa ter pressa pra aproveitar o passeio. Vá seguindo pelo rio. De longe, pode-se avistar palmeiras bem altas, é onde fica a vila com casas rosas e azuis e a plantação de banananeiras. Se chegar na hora certa, você vai encontrar, sentado nas pedras do rio, o pescador – acho que hoje foi dia de um belo dourado! Esse pessoal adora conversar, se der trela você vai ouvir um monte de histórias sobre a natureza com aquele sotaque encantador! Depois de um belo almoço com toda aquela comida caseira, a sombra de uma árvore qualquer e a paisagem de idílio convidam os namorados a se sentarem abraçadinhos. Com o sol a pino, só os cactos agüentam esse calor! Mas vale a pena depois conhecer lá para os lado das colinas sempre verdinhas, onde tem também outra vila. É a paisagem com touro que chama a atenção de quem passa, aquele baita zebu, no meio da praça! Deve ser por isso que tem cerca pra todo lado. Mas interior tem dessas cenas inesperadas mesmo. E se, depois desse passeio, você ainda não estiver certo de que a vida no interior é cheia de cores, movimentos e sabores, vá até o lago, onde as montanhas tem a cor das águas e as águas de céu. E a vegetação é exuberante, cada planta um formato. Tem palmeiras, epífitas e aquáticas e as paineiras estão em flor. E uma vez estando lá, você vai achar que entrou no sonho de alguém. Que essa calma e essas cores fazem parte da mente criativa de um artista. Bom, isso é verdade. A vida caipira é assim, tem outro tempo, tem outro ritmo e muito mais cor! E Tarsila me faz lembrar de tudo isso!

sábado, 2 de dezembro de 2006

Nada como um bom chocolate pra dar aquele seratonizada no organismo nos momentos ruins, se for suíço então!!