Quando era pequena tinha vontade de ir em todas as feiras de cães e bichos que aconteciam pela cidade. Fico imaginando como eu devia insistir até não aguentarem mais. Como minha mãe falaaté hoje , enquanto eu não consigo eu não sossego. Consegui então ir em algumas feiras. Claro que me interessavam mais aquelas em que, pagando o ingresso, na saída, cada criança tinha direito a ganhar um peixinho ou um pintinho! Podia escolher... mas que coisa chata aquele peixinho meio bobo boiando-nadando-chacoalhando dentro de um saco plástico com ar, claaaaro que eu queria o pintinho! Por causa dessas feiras eu achava que todo pintinho era amarelo ouro, não existia de outra cor. Levamos alguns pintinhos pra casa (no plural porquê sempre um era meu e o outro da minha irmã). Na verdade até essa idade só havia morado em apartamento. Naquela época não entendia direito porquê os pintinhos não podiam viver em uma caixa de papelão pra sempre. Fazia um esforço pra imaginar aqueles pintinhos virando galhinha ou galo mas nunca conseguia, eles eram tão bonitinhos, tão fofos e amarelos. Como é que podia virar uma galinha monstrenga?! E não tinha mesmo como conseguir imaginar. Nunca vi nenhum pintinho meu crescer, começavam a ficar um pouco maiorzinhos (acho que duravam na verdade só alguns dias em casa) e eram dados pra vizinha, empregada, sei lá quem!
Fiquei imaginando aqueles milhares de pintinhos amontoados esperando serem levados por crianças paulistanas para seus apartamentos. Será que todas as mães tinham pra quem dar os pintinhos? O que aconteciam a eles? Será que suas vidas foram melhores do que seus primos que moravam em granjas? Será que chegaram um dia a ciscar em um chão de terra? Acho que nunca descobrirei onde é o melhor lugar pra um pintinho rachar seu ovo e nascer. Ser pintinho de granja ou de apartamento tanto faz na verdade. Durante suas vidas não serão em nenhum momento indivíduos, pois são só mais um em um mar de pintinhos iguais. Viverão apenas com a função de dar prazer, ou `as criançinhas antes de morrerem, ou depois que foram pra panela. E a vida na cidade me lembra isso, pessoas ciscando por aí por migalhas de prazer, sem a consciência de que estão morando na verdade em uma granja onde todos são padronizados, ou, no máximo, num apartamento. Nunca vão saber que existiu um lado de fora, um terreiro pra ciscar.
Fiquei imaginando aqueles milhares de pintinhos amontoados esperando serem levados por crianças paulistanas para seus apartamentos. Será que todas as mães tinham pra quem dar os pintinhos? O que aconteciam a eles? Será que suas vidas foram melhores do que seus primos que moravam em granjas? Será que chegaram um dia a ciscar em um chão de terra? Acho que nunca descobrirei onde é o melhor lugar pra um pintinho rachar seu ovo e nascer. Ser pintinho de granja ou de apartamento tanto faz na verdade. Durante suas vidas não serão em nenhum momento indivíduos, pois são só mais um em um mar de pintinhos iguais. Viverão apenas com a função de dar prazer, ou `as criançinhas antes de morrerem, ou depois que foram pra panela. E a vida na cidade me lembra isso, pessoas ciscando por aí por migalhas de prazer, sem a consciência de que estão morando na verdade em uma granja onde todos são padronizados, ou, no máximo, num apartamento. Nunca vão saber que existiu um lado de fora, um terreiro pra ciscar.
Um comentário:
Caramba,o que anda acontecendo com você? Está borbulhando de pensamentos?
Essas coisas que você anda escrevendo não são aqueles blábláblás que eu tanto insistia?
Queria ter participação nisso, mas sei que não tenho pois sempre que te dizia sobre essas coisas você falava que era loucura. Eu fico chateado por isso, mas fico feliz em saber que você está descobrindo o mundo paralelo.
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